SÉRIE: O MAL DO ORGULHO (Texto II: Serviço ou ser visto?)
- Deus é Artista
- 19 de fev. de 2019
- 7 min de leitura
Atualizado: 13 de ago. de 2019
Antes de iniciarmos, gostaríamos de fazer algumas considerações. Durante o estudo para a elaboração dessa série de textos, nós oramos ao Senhor para que a Sua Palavra nos confrontasse e nos transformasse. Reconhecemos o nosso orgulho e oramos para que o Senhor nos ajude a encontramos a nossa identidade nEle dia após dia. A nossa oração é para que você também seja confrontado pela Verdade do Evangelho. Isso vai te incomodar, assim como nos incomodou, mas te apontará que para seguir a Cristo é necessário negar a si mesmo, tomar a sua cruz e segui-Lo. Que Ele nos ajude nessa missão!
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SERVIÇO OU SER VISTO? (Marcos 9:35 / Marcos 10: 35-45)
Como vimos no texto anterior, o orgulho é um inimigo sutil. Além de influenciar a forma como pensamos acerca de nós mesmos em relação aos demais, esse pecado também afeta a maneira como usamos as nossas habilidades - nesse caso específico - na realização obra de Deus. Uma das minhas partes favoritas do livro “O Grande Abismo” de C.S Lewis, é o capítulo em que o autor-narrador observa um diálogo entre um um artista e um "Espírito Sólido” . Esse livro é repleto de alegorias (característica marcante nas obras de Lewis) que nos fazem refletir sobre nossa vida e a eternidade. Entre os diversos personagens apresentados, com os quais podemos vez ou outra nos identificar, está o artista. Um homem que ficou deslumbrado ao ver a beleza do lugar, mas que seu interesse não passava de um meio para atingir um fim: glorificação pessoal. O seu encanto pelo divino estava limitado ao mero objetivo de produzir uma pintura, e por isso ele não pôde adentrar as céus.
Vejamos um trecho do diálogo:
Artista: [...] Você naturalmente não viu meus últimos trabalhos. Acabamos nos interessando mais e mais na pintura pela própria pintura.
E. Sólido: De fato. Eu também tive de sair dessa. Tudo não passava de uma armadilha. Tinta, cordas de instrumentos musicais e pintura eram necessárias lá embaixo, mas elas são também estimulantes perigosos. Todo poeta, músico e artista, se não fosse pela Graça, seriam afastados do amor das coisas de que falam, para o simples amor das palavras até que no Inferno Profundo, não mais se interessem por Deus de modo algum mas apenas naquilo que dizem a respeito dEle. Pois a coisa não pára no interesse pela pintura, você sabe. Eles afundam mais — ficam obcecados pelas suas próprias personalidades e depois por mais nada além de suas reputações.”
Ser um artista não é fácil. Somos tentados a confiar mais naquilo que produzimos do que no dono da nossa arte. Entretanto, isso não se aplica apenas a esse personagem, tampouco aos que se dedicam especificamente às atividades artísticas. Nós que servimos ao Senhor como membros do corpo de Cristo chamado Igreja, também somos tentados a amar mais AQUILO que fazemos do que para QUEM fazemos. E aí é que está: o mal do orgulho pode estar sutilmente presente na forma como realizamos a obra de Deus.
Infelizmente, por trás da retórica do “serviço”, em muitos casos, há um coração que busca a autopromoção através do Evangelho. Para não cairmos no pecado do mundo de se auto gloriar, criamos uma espécie de “fama gospel” no qual as mesmas formas de idolatria que vemos entre os não-cristãos são aceitas, desde que se trate de alguém ou algo que pertença ao ambiente tido como cristão. A linguagem pode até ser diferente, mas o sentimento de soberba e de busca por engrandecimento é o mesmo encontrado no mundo: muitos aplausos, fotos enormes, entre outros. Por favor, não me leve a mal. Não sou contra o uso da imagem de alguém, por exemplo em um cartaz, tampouco sou “anti aplausos”, o que quero falar é sobre a essência de tudo isso. Não é porque estamos exercendo atividades cristãs que estamos imunes. O orgulho é um inimigo sutil e se fecharmos os olhos para essa realidade facilmente sucumbiremos a ele.
Afinal, qual a motivação do nosso coração? queremos realizar um serviço para o Senhor mediante os dons e talentos que Ele em sua abundante Graça nos concedeu, ou queremos ser vistos através do que fazemos?
A verdade é que o nosso coração é enganoso. E esses pensamentos não são comuns apenas ao nosso tempo. Os próprios discípulos de Jesus que andaram lado a lado com Ele também foram tentados quanto ao orgulho e até mesmo deixaram-se levar por esse pecado. No livro de Marcos capítulo 9 os vemos discutindo pelo caminho sobre quem dentre eles era o maior, e no capítulo 10, Tiago e João levaram a Cristo uma proposta que nos deixa espantados e até mesmo indignados. Eles pediram a Jesus que em seu reino, os permitisse sentar um à esquerda e o outro à direita
Os discípulos estavam pensando acerca do reino de Jesus em termos de um reino terreno, e em si mesmos como possíveis principais ministros de Estado. Eles pensam em projeção, grandeza e distinção especial quanto aos demais. A ambição e o desejo de preeminência dos discípulos soava mal, sobretudo diante do que Jesus sempre os falou a respeito de seu sofrimento e morte. O Rei da Glória , o Senhor do Senhores, Criador do universo dava claro sinal de seu esvaziamento e humilhação, a ponto de entregar voluntariamente sua vida a favor dos pecadores, enquanto os discípulos cheios de vaidade e soberba discutiam sobre qual deles era o maior.
“Você consegue enxergar a si mesmo nesta história? Às vezes, é fácil desprezarmos os discípulos e deixarmos de reconhecer nosso rosto nesta pintura dos apóstolos que o evangelho nos fornece. Na estrada, Tiago e João discutiram sobre quem era o maior; talvez não falemos disto abertamente, mas, em nossos pensamentos, não nos envolvemos, todos os dias, na mesma discussão? Se você é como eu, você se compara com outros e procura oportunidades para reivindicar que é mais importante do que eles, assim como os discípulos fizeram.” (Livro: Humildade Verdadeira Grandeza - C. J Mahaney)
Nessa passagem bíblica, não apenas Tiago e João demonstram um desejo por superioridade. Os outros discípulos julgando-se mais justos demonstraram orgulho ao ficarem irritados com a situação, “o que revelava não somente o desejo deles de ter glória, mas também sua justiça própria – possivelmente um pecado muito mais sério do que o de Tiago e João.” (Livro: Humildade Verdadeira Grandeza - C. J Mahaney).
O orgulho (fome por glória pessoal e o narcisismo) é tão antigo quanto a queda de Satanás e foi a causa da queda dos nossos pais no jardim do Éden. John Charles Ryle diz que todos nós nascemos fariseus. Todos nós julgamos-nos melhores e mais merecedores do que recebemos. Essa altivez, arrogância, empáfia, presunção , constitui-se uma barreira que nos mantém distantes do arrependimento diante de Deus e do amor ao próximo. A escritura adverte: A soberba precede a ruína e a altivez do espírito a queda ( Pv 16:18 ). Não foi essa experiência de Senaqueribe ( 2 Cr 32 : 14 , 21) , Nabucodonosor ( Dn 4: 30—33) e de Herodes Agripa ? ( Atos 12: 21 –23).
NO REINO DE DEUS SER GRANDE É SER SERVO
Os valores do Reino de Deus estão em total oposição ao valores do mundo. No reino de Deus a pirâmide social está invertida, está de ponta-cabeça. O maior é o menor, o que tem mais preeminência é o servo de todos . O único estandarte de grandeza erguido por Cristo é a bandeira da humildade. Jesus é categórico : Se alguém que ser o primeiro , será o último e servo de todos ( Mc 9:35).
O próprio Cristo não buscou reconhecimento nas obras que realizava. Em vários relatos bíblicos vemos a sua discrição na operação de milagres, ao pedir, por exemplo, que os restaurados não contassem sobre o que havia acontecido: "Sabendo disso, Jesus retirou-se daquele lugar. Muitos o seguiram, e ele curou a todos os doentes que havia entre eles, advertindo-os que não dissessem quem ele era. Isso aconteceu para se cumprir o que fora dito pelo do profeta Isaías: "Eis o meu servo, a quem escolhi, o meu amado, em quem tenho prazer. Porei sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará justiça às nações." (Mateus 12:15-18)
Ainda hoje, o mal uso dos dons espirituais, por exemplo, é um grave problema na igreja. Muitos crentes usam os dons como instrumento de autopromoção. Essa altivez espiritual é um sintoma de imaturidade. Não podemos pensar acerca de nós mesmos além daquilo que convém (Filipenses 2:3).Não deve haver espaço para o orgulho no coração de quem foi salvo pela Graça. Tudo o que temos recebemos de Deus (1 Coríntios 4:7) . Tanto a salvação mediante a fé como os dons que recebemos para o serviço são dádivas do Deus trino .
A ideia de grandeza no reino de Deus é servir aos irmãos. Em outras palavras, quem se esforça em servir aos outros é o maior aos olhos de Cristo. Ser servo não significa estar em uma posição de inferioridade, mas ter uma atitude que livremente atende às necessidades dos demais sem esperar recompensa. Servir é a real liderança. W.W. Wierber diz que a filosofia do mundo é que você é grande se os outros estão servindo a você, mas a mensagem de Cristo é que a grandeza vem de você servir aos outros. O que importa não é ser aplaudido pelo mundo,mas ser aprovado pelo céu. O que interessa não é ser grande aos olhos dos homens, mas ser grande aos olhos de Deus.
Afinal, “Como pedir coroas a um Rei que da sua glória se despiu? Como exigir riquezas de um Rei que a cabeça não tinha onde reclinar? Como pedir honras a um Deus que maldito se fez e coberto de vergonha foi por amor? Como eu posso ser assim querer tanto quando ele não quis nada além de me amar?"¹
Motivo de oração: Que realizemos a obra do Senhor como um serviço para a Sua Glória e não para sermos vistos!
SDG/ES
Rafael Xavier (missionário/ seminarista do Betel Brasileiro); Sara Isabelly (Graduanda em Jornalismo -UEPB/ Escritora no blog Deus é Artista).
A série continua --> Próximo texto: 26/02
¹ Sobre Ele - Amanda Rodrigues
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